Naquela noite, eu estava particularmente serena, nada me importunava. Fui assistir, como de hábito, a palestra, das quintas-feiras, no Centro Espírita que eu freqüentava, no bairro do Leblon.
O tema da noite versava sobre o nosso mundo de provas e expiações. O palestrante ressaltava que a verdadeira vida estava no mundo espiritual, que aqui tudo é transitório, inclusive a felicidade - sujeita às intempéries da vida material.
E, eu, que estava feliz e tranqüila, discordava intimamente daquela abordagem, para mim tão radical. Ao final da palestra, fui matutando o assunto, resmungando comigo mesma.
Caminhei, distraída, até a Praça Antero de Quental, para tomar meu ônibus no ponto final – naquela época eu morava no bairro de Botafogo.
Perdida em meus pensamentos, subi no 410, que ainda estava vazio. Subitamente, fui levada a sentar, por um cidadão, discreto e bem vestido.
Ainda surpresa, obedeci às suas ordens, sem me dar conta do que acontecia.
Ele, delicadamente, retirou o relógio de meu pulso, pegou o dinheiro da carteira, deixando a quantia da minha passagem.
Levantou-se, passou pela roleta pagando a passagem, desceu.
Nesse instante acordei de minha perplexidade.
Gritei para o motorista parar. Desci correndo atrás do fulano, mas...
Tarde demais.
Um gosto amargo e uma pontada no peito acusaram o meu desgosto.
Realmente, o palestrante tinha razão na impossibilidade da felicidade num mundo de provas e expiações.
Voltei cabisbaixa para o ponto de ônibus.
Até hoje me arrependo de ter usado o relógio que o meu filho ganhou de presente do padrinho.
domingo, 7 de dezembro de 2008
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